O pacote de tarifas de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que entrou em vigor em 6 de agosto (veja aqui), começa a mostrar seus efeitos do outro lado da cerca, provocando prejuízos a empresas importadoras e, consequentemente, aos consumidores, que já pagam mais caro por produtos do dia a dia.
Segundo cálculos apresentados por parlamentares norte-americanos contrários à medida, o comércio bilateral sustenta cerca de 130 mil empregos nos Estados Unidos e gera superávit para a balança americana. A elevação das tarifas, portanto, não apenas encarece insumos e mercadorias, como também ameaça setores industriais e varejistas que dependem de itens brasileiros, que vão de carnes e café até aço, calçados, vinhos e produtos de pesca.
Diante desse cenário, um grupo de cinco senadores apresentou projeto no Congresso pedindo o cancelamento imediato das tarifas. O argumento central é que a medida, justificada por uma “emergência econômica” decretada pela Casa Branca, teria sido motivada por razões políticas e não pelo interesse da população americana.
O discurso dos parlamentares é direto: as tarifas se tornaram uma espécie de “autogolpe comercial”, com efeitos de encarecimento dos produtos para o próprio consumidor americano. Empresas de pequeno porte, como importadores de bebidas em Nova York e varejistas de artigos de pesca na Pensilvânia, já moveram ações judiciais relatando perdas significativas e redução de margens de lucro.
Além das empresas, 12 estados americanos ingressaram com processos alegando que o presidente excedeu seus poderes ao recorrer a uma lei de emergência para impor as tarifas. Governos estaduais calculam que o impacto pode chegar a bilhões de dólares em perdas indiretas, entre queda nas importações, redução da atividade em portos e aumento de custos logísticos.
Há ainda o risco de desorganização das cadeias produtivas: segmentos da indústria que dependem de matérias-primas brasileiras, como aço e couro, enfrentam alta repentina nos custos e alertam para perda de competitividade frente a rivais asiáticos.
Especialistas em comércio exterior lembram que, em vez de enfraquecer o Brasil, o tarifaço pode acelerar a aproximação brasileira com outros parceiros, especialmente a China, que já é o principal destino das exportações nacionais. Para Washington, isso significa perder espaço de influência em um mercado estratégico e abrir espaço para concorrentes globais.
O tema ganhou dimensão institucional. A Suprema Corte dos EUA aceitou julgar se o presidente tinha ou não autoridade para impor as tarifas com base em uma lei de emergência. Até que haja decisão definitiva, as tarifas seguem em vigor, mas a pressão política aumenta.
Enquanto isso, importadores e consumidores acumulam prejuízos. O paradoxo é que a medida pensada para punir o Brasil pode acabar custando caro justamente aos americanos que dependem desse comércio.