A safra brasileira de soja em 2025 entra para a história recente do agronegócio como um ciclo de elevada complexidade técnica e estratégica. Marcado por clima irregular, custos de produção ainda pressionados e volatilidade no mercado internacional, o ano exigiu do produtor rural um nível maior de planejamento, gestão e tomada de decisão. Ainda assim, o Brasil manteve sua posição de liderança global na produção e exportação do grão, sustentado por ganhos tecnológicos e demanda externa firme.
Com produção próxima de 150 milhões de toneladas e exportações ao redor de 100 milhões de toneladas, o Brasil encerrou a safra de soja de 2025 consolidado como o maior fornecedor global do grão, apesar de um ano marcado por irregularidades climáticas, custos elevados e necessidade crescente de gestão profissional no campo.
Desde o início do ciclo, o cenário indicava um ano desafiador. O plantio ocorreu sob influência de anomalias climáticas associadas ao El Niño, com chuvas mal distribuídas em algumas regiões e excesso hídrico em outras, comprometendo janelas ideais de semeadura e elevando riscos fitossanitários. Ao longo do ano, a transição para condições climáticas mais neutras não eliminou a instabilidade, resultando em impactos desiguais entre as regiões produtoras.
No Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso e Goiás, o plantio avançou de forma relativamente organizada, mas enfrentou períodos de estiagem intercalados com chuvas intensas, exigindo manejo rigoroso de solo e controle de pragas e doenças. No Sul do País, produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul lidaram com excesso de chuvas em momentos críticos do ciclo, o que trouxe perdas pontuais de produtividade e problemas de qualidade dos grãos.
Já no Matopiba, a irregularidade das precipitações reduziu o potencial produtivo em algumas áreas, ao mesmo tempo em que reforçou a importância da escolha genética, do manejo da água e da adoção de tecnologias voltadas à adaptação ao estresse climático. Apesar das adversidades, a soja brasileira demonstrou resiliência, sustentada por evolução genética, maior profissionalização do produtor e amplo uso de tecnologias agronômicas.
A colheita confirmou uma produção elevada, suficiente para garantir o abastecimento interno e sustentar volumes expressivos de exportação. No entanto, o resultado final ficou abaixo do potencial inicialmente projetado, reflexo direto dos impactos climáticos localizados. Ainda assim, não houve escassez de oferta, nem sobra excessiva, o que contribuiu para um equilíbrio maior na formação de preços ao longo do ano.
No mercado internacional, a demanda seguiu firme, com destaque para a China, principal destino da soja brasileira. O país asiático manteve ritmo consistente de compras, impulsionado pela cadeia de proteína animal e pela recomposição estratégica de estoques. Além disso, incertezas geopolíticas e comerciais reforçaram a busca por segurança no fornecimento, favorecendo o Brasil como origem confiável.
O câmbio teve papel relevante na rentabilidade do produtor. As oscilações do real frente ao dólar influenciaram diretamente os resultados, e, em diversos momentos de 2025, a combinação de dólar valorizado e prêmios positivos nos portos garantiu margens mais atrativas, especialmente para quem adotou estratégias de comercialização antecipada.
CUSTOS – Para o presidente do Instituto do Agronegócio (IA) e da Federação dos Engenheiros Agrônomos de Mato Grosso (Feagro-MT), Isan Rezende (foto), o crescimento dos custos de produção foi o principal ponto de preocupação para os produtores rurais, durante 2025.
“Fertilizantes, defensivos e, sobretudo, a logística seguiram pressionando o caixa do produtor, deixando claro que a margem passou a depender muito mais de eficiência operacional e planejamento do que apenas do preço final da soja”, afirma o presidente Isan Rezende.
“A logística foi um dos maiores gargalos do ciclo. Estradas em más condições, fretes elevados e falta de alternativas de escoamento geraram atrasos e perdas. Em algumas regiões, as perdas no transporte e na armazenagem chegaram a algo entre 5% e 8% da produção, o que representa prejuízo direto para o produtor e perda de competitividade para o País”, destaca.
“Outro problema estrutural é a deficiência de armazenagem. O Brasil ainda tem um déficit relevante de capacidade estática, o que obriga muitos produtores a venderem no pico da colheita, quando os preços estão pressionados e o frete mais caro. Isso reduz margem e transfere renda do campo para a logística”, avalia Rezende.
“Nos momentos de maior escoamento, a disputa por espaço em portos e terminais se intensifica. A dependência excessiva de rodovias, somada à lentidão em investimentos públicos, encarece o custo Brasil. A ampliação de rotas alternativas, como o Arco Norte, avançou, mas ainda está longe do potencial necessário”, critica.
“Mesmo diante desse cenário, o setor mostrou capacidade de adaptação. O produtor investiu mais em gestão, tecnologia, agricultura de precisão e sustentabilidade, entendendo que, na sojicultura atual, o sucesso está ligado à tomada de decisão estratégica, à eficiência produtiva e à leitura correta do mercado, e não apenas ao volume colhido”, conclui o presidente do IA e da Feagro-MT.








